quinta-feira, 6 de maio de 2010

Minha primeira experiência com as Danças Circulares


É uma noite de verão. Uma voz chama para o círculo. A renda das árvores bordada pelo fio da lua ilumina uma pequena roda... Mãos dadas no círculo. Essa cena dava luz ao apagado da memória de minha infância. Alegria e curiosidade. Os comandos suaves da voz, qualificava, davam sentido e significado a cada gesto. Da forma à força.... aquilo era um ritual. Um canto de amor à Mãe Terra. Pés firmes no chão, mãos buscando o céu. Eu, um elo no amor do céu pela Terra. O corpo vertendo. Na transcendência da forma particular à sintonia com tudo o que vive. A vida pulsava. Eu estava no centro do mundo, tinha encontrado o meu espaço sagrado.

Por 27 anos fui chamada de Márcia, hoje sou Maristela. Nasci numa pequena cidade no interior de São Paulo, Mombuca. Cidade dessas em que a nome vem sempre acompanhado de explicações. Minha infância: andar pelo mato, subir em árvores, esconde-esconde, cabra-cega, pega-pega, queimada. Aprendi a nadar nas enchentes. Pedalar e me perder nas estradas, sempre buscando ir mais longe. Mais longe fora e mais perto dentro. Muitos desafios. Das danças lembro somente das quadrilhas e das cirandas. Na adolescência acreditei que tinha perdido o ritmo, a dança foi banida. Entrei em colapso com o meu corpo. Foi efetivamente instalada uma fenda entre mente/corpo. Fui buscar na Educação Física o elo rompido. Pouco encontrei além de automatismo, fragmentação, competição e inconsciência. Nos meus 31 anos estava no limiar de uma vida e grávida de outra. Estava numa encruzilhada. Como eu não trilhava, naquele momento, nenhum caminho, eu tinha a liberdade de escolher qualquer um. Sincronicidade: um convite para o lançamento de um programa de educação que tinha sido inspirado em um modelo indiano, do mestre Sai Baba. Sai Baba. Essa foi a senha. No verão de 1995, no cerrado das Gerais, participei da reunião do lançamento daquilo que viria a ser o programa de EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS da Fundação Peirópolis de Uberaba: o ser humano tocado e estimulado em todas as suas dimensões sendo ligado, conectado, fundido pelo fio do amor. Participei das atividades da Fundação Peirópolis de Educação em Valores Humanos por 14 anos e, foi nesse espaço de múltiplos saberes que tomei contato com as Danças Circulares e Sagradas. Entre as experiências de complexidade, diferentes níveis de realidade, o terceiro incluso, o sagrado, foram, particularmente, as Danças Circulares que me revelaram os espaços subterrâneos, escuros, desconhecidos e ampliaram o que de mim há em mim. A dança circular permeava todos os encontros. Se no início parecia ser algo extravagante, com o tempo se fez a necessidade, pois dançar trazia uma reorganização interna. Os gestos criando mundos de significado e beleza. A cada volta na roda algo muito intenso, distante da capacidade de ser verbalmente expresso, acontecia. E girando e girando eu atravessava mundos. Conseguia ver através do olhar do outro, estendia minha tolerância. A música ampliava meus espaços internos. E nesse girar acessava a memória dos tempos em que muitos, irmanados, tomados pela emoção e vazios de conceitos, derramavam-se em sentir e dançavam em volta da fogueira ancestral.
Na primavera daquele mesmo ano me lembro que tivemos um encontro de dois dias com as Danças Circulares. Mary, vinda de Campinas. Foi um momento muito especial e profundo. Durante a dança do povo de Israel, Tzadik Katamar, eu pude experienciar um quebra de padrão. Algo velho estava se rompendo. Conceitos e crenças sendo quebradas juntamente com as correntes que me aprisionavam. Eu girava e girava. Um grande olho inquisidor se fechava e perdia seu poder. Vozes se calavam.
Eu girava e a cada girar eu ficava embriagada de mim mesma. Êxtase!
Como uma criança que precisa ouvir várias vezes a mesma história, para que possa aprender o caminho que a história a conduz, eu precisava dançar e dançar. De novo e de novo. Eu não podia correr o risco da trilha se perder pelo esquecimento.
A partir daí, tomando em consideração leis cósmicas onde um mundo criado precisa de sustentação e de manutenção coloquei-me em marcha para manter a trilha do novo mundo limpa e visível.
Iniciei muito tímida e intuitivamente a organização grupos de estudos e vivências.
Levei as danças circulares e sagradas para escolas públicas, de várias cidades e estados, instituições de recuperação de dependentes químicos, formação continuada de professores, mundo fashion, empresas, parques, praças, festas. Na Tailândia, India e na Escócia pude levar um pouco da nossa vasta cultura através das danças indígenas e folclóricas. Enfim, poucos foram os convites recusados.
Entre dançar naquela noite de verão e dançar nas terras geladas da Escócia – Findhorn - foram 11 anos da minha vida.
Em 2009 fiz minha formação em Danças na TRIOM - SP, com Renata Ramos.
Pela experiência que tive com as danças e de todos os aspectos que podem ser trabalhados com elas, foi para o aspecto terapêutico que dirigi meu olhar. Dançar outros povos é espelhá-los, é aprender com o que há na memória da matéria profunda. É conhecer o outro pelo gesto. Os símbolos, as mandalas desenhadas pelo corpo no espaço remetendo-me ao corpo da humanidade. Ser o todo em si e parte de algo maior. Ser conduzida à sensação de liberdade, de amplitude, de autoconsciência, de unidade, de alegria, gratidão, êxtase e pertencimento que a dança proporciona. Segundo Santo Agostinho, aprenda a dançar, senão os anjos do céu não saberão o que fazer contigo! Então...EU DANÇO!!!

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