quarta-feira, 25 de agosto de 2010

janelas na arte

JANELAS NA ARTE
Eliana R. da Cunha Miranzi

Janelas são fundamentais numa habitação. Por elas entram o ar que respiramos a luz do sol, os sons vindos do exterior. Através delas podemos lançar nossos olhos aos céus, sonhar... Através delas o ar dos ambientes fechados é trocado, renovado. Por isso, podemos entender que janelas têm o poder de transformação. Indicam receptividade, abertura, acolhimento daquilo que vem de fora, do novo, do desconhecido.
Uma janela aberta é uma fonte de luz natural, por excelência. Fonte de vida, inspiração.
Nossos olhos funcionam como janelas do nosso entendimento, de nossas almas, do que há dentro de nossos corações e mentes. Abertos, buscam sempre mais luz. Fechados, nos fecham para o mundo. Nossos olhos são redondos assim como são as rosáceas de vitrais coloridos das Igrejas Góticas. As janelas-vitrais têm efeito funcional e decorativo. Como ornamento, a arquitetura sempre usa janelas em locais especiais, provocando, como efeito, nossas emoções.
Na língua inglesa, a palavra “window” (janela) vem de antigas línguas escandinavas e significa “vento e olho”. Do francês, temos “fenêtre”, que remete a abertura, fenda. Em espanhol, “ventanas”. Portanto, só a palavra em si nos põe a pensar...
Janelas fechadas simbolizam isolamento, reclusão, opção por “não ver”, não tomar conhecimento do exterior, do mundo lá fora, da vida; dos sons da natureza ou o burburinho das cidades. Também significam não-participação, bloqueio da luz, do calor, da brisa que renova o ar viciado. Além disso, trazem um certo ar de mistério: o que há por trás da janela fechada? O que ela esconde?
Na pintura há muitas janelas em cenas criadas por diferentes artistas. Além de servirem como ponto de entrada da luz no tema do quadro, uma janela permite ao artista, muitas vezes, colocar mais elementos no quadro além dos que já estão “dentro da cena”. Assim, podem mostrar paisagens, o exterior, etc.
Vamos observar alguns quadros com janelas.

ANUNCIAÇÃO – Roger Van der Weyden.(+ou-1400/1464)(Gênios da Pintura, vol.1) Pintor belga,jamais assinou suas obras,sendo ignorado até meados do século XIX, quando estudos feitos em antigos documentos comprovaram sua existência.Foi pintor oficial da cidade de Bruxelas e deixou magnífica obra, que, por desconhecimento era confundida com a obra de Van Eyke.Foi à Itália e transmitiu os segredos da pintura a óleo aos artistas de lá. Muito contribuiu com a arte renascentista. Seus temas eram quase sempre religiosos, apesar de também ter pintado retratos. Em sua Anunciação, há efeitos de luz e sombra, sendo que o vermelho, o preto e o branco predominam. No fundo à esquerda, temos a janela aberta para dar entrada a uma luz generosa, que invade o quarto, iluminando a cena e dando reflexos dourados ao anjo. Este parece flutuar ao lado da virgem, em negro, cabeça inclinada, parecendo estar tentando compreender a mensagem que nesse momento recebe. Tem em suas mãos as sagradas escrituras. Há outra janela a seu lado, vindo daí mais luz. O vermelho da cama e das almofadas no banco traz à cena certa dramaticidade. No canto esquerdo em baixo, vemos um vaso de lírios, símbolo da pureza, e da Virgem. Acima do banco no beiral há duas vasilhas de vidro e duas frutas. Há bastante dourado: na capa do anjo, no lustre, no medalhão acima da cama, na jarra que se encontra ao lado desta. A paisagem que vemos pela janela é pacífica, bela, acolhedora. É uma janela escancarada, que permite entrada e saída. A obra tem caráter religioso, porém mostra a humanidade da Virgem.

Nossa Senhora com o Menino Jesus – Giorgione.(1478/1510) (Gênios da Pintura,vol 2) Pintor italiano da renascença. Sabe-se pouco de sua vida e as informações são incertas. No entanto deixou belíssima obra, entre temas religiosos, mitológicos, paisagens e retratos. Morou em Veneza e trouxe à pintura de sua época um novo conceito de luz e uma nova relação entre a figura humana e a natureza. Esse quadro é do início de sua carreira, e ainda mantem as figuras um tanto rígidas. Isso com o tempo muda e ele passa a desenhar com mais lirismo.Vemos no ambiente uma grande serenidade, com o Menino atento ao que sua mãe lê. A figura da virgem toma toda a parte central da composição, em tons de amarelo, vermelho e azul. A janela tem moldura decorada, e revela no exterior um prédio grande, imponente, com torre alta, céu azul; a luz entra com alegria, fazendo reluzir as figuras humanas no quadro. Há volume na figura de Nossa Senhora, um pouco menos no menino. Serenidade, paz e interesse pelas escrituras, são impressões que nos ocorrem.

Madonna del Garofano (cravo) – Leonardo Da Vinci (1452/1519) (Gênios da Pintura, vol 2) Nascido perto de Florença, foi aprendiz no atelier de Verrocchio. As cidades italianas ferviam em uma época de intensas atividades artísticas. Leonardo, gênio multifacetado, produz esta obra em 1478. É muito feminina e jovem esta Virgem, que vemos tão perfeitamente enquadrada entre as janelas que aparecem por detrás. Recurso técnico, as quatro janelas servem também para embelezar a tela. A paisagem exterior é descompromissada, não realista, quase uma abstração. Mas, a partir das janelas, Leonardo conseguiu uma perspectiva perfeita, além da luminosidade e brilho necessários para fazer uma obra cheia de emoção, sentimento e ternura. A Virgem mostra um cravo ao Menino, que tenta alcançá-lo. Tem os olhos abaixados, o que era comum na retratação das madonas, simbolizando humildade e recato. Temos cores vibrantes nas vestimentas e os cabelos aparecem caprichosamente arrumados, com brilho e leveza. À direita, embaixo, o cantinho é reservado para um elegante vaso de flores, que comumente aparecem junto às virgens renascentistas. Apesar de ter sido considerado inconstante e de muitas de suas obras terem ficado inacabadas, Leonardo presenteou a humanidade com um legado ímpar. Essas janelas mostram uma arquitetura elegante, uma abertura óbvia para o mundo, ar puro, liberdade e visível observação de detalhes.

Nossa Senhora com o Menino – Albrecht Dürer (1471/1528) (Gênios da Pintura,vol2) Artista alemão que viveu em um período de transição entre dois mundos: a arte deixava aos pouquinhos, de ser privilégio da Igreja e nobres e começava a retratar o homem comum e a natureza. Dürer levou o Renascimento para a Alemanha. Fez vários auto-retratos, sendo que o primeiro foi feito quando ainda tinha apenas 13 anos. Artista curioso e hábil dominava várias técnicas de trabalho, como ilustrações, gravuras, além do desenho e pintura. A cena deste quadro mostra a religiosidade do pintor. Nossa Senhora se apresenta bastante humana, em vigília a um Santo Menino adormecido, sendo que o ambiente está repleto de anjos. Vários deles seguram a coroa da Virgem, suspensa no ar. Um pequenino anjo guarda a cabeceira da cama do Menino. Outros espalham incenso. Ao fundo, à esquerda, São José trabalha em sua bancada de marceneiro. A Bíblia Sagrada se encontra do lado direito, junto à Virgem. Próximo, vemos um figo, que pode representar o pecado original, assim como para outras pessoas pode simbolizar as virtudes. E pela janela podemos observar uma pacata vizinhança: algumas casas, uma carroça puxada por cavalo, uma pessoa. Quietude. Silêncio. O Deus Menino dorme. Há muita preocupação com a arquitetura do local. É apenas decorativa, esta janela; não vem luz dali. Somente serve para nos lembrar que há um mundo lá fora. Os focos de luz vêm de onde se coloca o observador, e da parede do fundo. Há também luz no véu que cobre a cabeça de Maria e no menino. As mãos de Maria devem ser destacadas: mãos grandes, gastas, mãos que trabalham...

O Casal Arnolfini – Jan Van Eyck(+ou-1389/1441) (Para Entender a Arte, pág.14), Artista holandês, trabalhou para a corte como pintor e também diplomata, em missões na Espanha e Portugal.Todos os trabalhos que podem ser realmente atribuídos a ele datam de seus 10 últimos anos de vida. Foi um dos maiores artistas de seu tempo, tendo influenciado vários outros, inclusive Dürer e Vermeer. Aperfeiçoou a técnica da pintura a óleo, abrindo novas possibilidades de trabalho. Este quadro retrata o casamento de um banqueiro italiano estabelecido na Bélgica. Serviu como registro das núpcias. A janela à esquerda deixa passar intensa luz e calor ao ambiente. É uma janela elegante, elaborada. A luz reflete nos rostos dos retratados, e se espalha pelo quarto. O casal, belamente trajado, de mãos dadas, sela um compromisso. Acima da cama vemos um espelho que repete a cena... Duplos... O artista deixa sua assinatura acima do espelho. O lustre é rico, porem só há uma vela acesa. Para alguns, representa Deus que tudo vê ou um incentivo à fertilidade. O rosário de cristal na parede representa pureza, devoção e fidelidade. A laranja na janela é um dos símbolos do fruto proibido. A cama é o símbolo de nossa entrada e nossa saída deste mundo. Os sapatos postos de lado indicam que ali estava ocorrendo uma cerimônia religiosa. Estes sapatos de madeira eram do cavalheiro. Os da senhora estão perto da cama, vermelhos. O cãozinho simboliza fidelidade. A noiva não está grávida. É que o ventre era considerado um ponto de beleza. Tudo aqui retrata a riqueza, o status do casal. As cores são intensas, os sombreados magníficos. A preocupação com detalhes é bem típica da pintura flamenga. Esta janela com sua luz fazem o quadro ser o que é.

Cristo em Casa de Marta e Maria – Tintoretto (Jacopo Robusti,seu verdadeiro nome) (1518/1594) (Gênios da Pintura, vol.3) – Nascido em Veneza, sua obra é grande, tendo sido iniciada muito cedo. Foi matriculado pelo pai no atelier de Tiziano,que o expulsou por ciúmes de seu talento. Assim, começou a pintar por conta própria e estudar sozinho. Suas obras contem uma busca espiritual, sendo que a luz e os corpos dos personagens são sua preocupação maior. Seu desenho é cheio de linhas curvas e os temas são religiosos ou mitológicos. Neste quadro, as três figuras em primeiro plano captam nossa atenção pela luz. As outras figuras são menos destacadas, menos detalhadas. Vemos Cristo em conversa com uma mulher, que poderia ser Maria Madalena (Esta tradicionalmente era retratada em vermelho); ao seu lado, Maria. Podemos observar que ou Madalena fala e Cristo ouve, ou Cristo explica algo às mulheres. Porém, pela posição da cabeça de Maria, parece ser Madalena a que fala. Ao fundo, à direita, vemos Marta a cozinhar. Outros estão na sala, são discípulos, assim como provavelmente o dono da casa, Lázaro, amigo de Cristo. Ao fundo, a janela. Bela, cheia de claridade, nos mostra os outros discípulos do lado de fora, á espera do Mestre. Há movimento na cena toda, os personagens se viram, conversam. Há luz vindo da posição do observador do quadro, também, refletindo-se mais intensamente nas três figuras centrais. Na cozinha, situada em um nível mais alto, provavelmente havia outra entrada de luz, ou seria apenas a claridade oferecida pelo fogo? Lázaro era homem de posses, e vemos isso na ambientação. As faces retratadas são doces, belas. Do Cristo emana uma luz especial. A janela pode ser considerada como ligação do externo com o interno, espiritual e mundano, e também parece incluir os outros apóstolos, ou convida-los a fazer parte da reunião.


Moça Lendo uma Carta – O Soldado e a Moça que Ri – A Leiteira – Jan Vermeer (1632/1675) (Gênios da Pintura, vol.4) Quase toda a obra de Vermeer é retratação de cenas domésticas, é feita no interior das casas. Pintor austero em sua técnica,colocava recursos emocionais nos motivos mais corriqueiros. Viveu em época de intensa turbulência política, mas nada disso percebemos em seu trabalho. Seus quadros celebram a paz. Aqui nestas obras observamos certas constantes: recintos fechados, uma janela sempre à esquerda, luz filtrada, olhos da personagem não encaram o observador, há tapetes, cortinas mobiliário destacado, às vezes mapas nas paredes, objetos domésticos simples, mas também vida, vida real. Os ambientes são íntimos, há quietude e paz. Nos dois primeiros quadros citados temos a mesma janela: bonita, com vidros e ferro trabalhado e sua luz generosa. Há detalhes tocantes: o reflexo do rosto da moça que lê a carta, no vidro da janela, a taça de cristal que a jovem segura ao conversar com o soldado, e seu sorriso. Na “Leiteira” a luz que entra no recinto trás um intenso dourado, que a tudo faz brilhar. Mulheres em casa, mulheres no cotidiano doméstico, esse é o tema de Vermeer. O amarelo, o azul e o vermelho são suas cores. Janelas amigas, fartas, abertas, trazem iluminação, alegria e mostram que, apesar das cenas serem internas, o artista tinha conhecimento do mundo lá de fora e não o desprezava, ao contrário, o valorizava.

As Senhoritas Waldegrave – Joshua Reynolds – (1723/1792) (Gênios da Pintura, vol.4) Artista Inglês, grande retratista e fundador da Academia Real, que no início chamou de Sociedade dos Pintores. Muito discreto, mantinha um pesado véu sobre sua vida pessoal. Viajou à Itália e Holanda para estudar. Reynolds viveu no início da Revolução Industrial, quando começa a haver uma classe social endinheirada, que quer seus retratos pintados. Teve enorme obra. Seus retratos diferenciam dos demais pintores, pois não se contenta em apenas retratar pessoas: coloca-as em cenas diferentes, de acordo com suas características: idade, sexo, profissão e posição social. Varia os ambientes em que estão estas pessoas retratadas. Freqüentava ambientes literários e culturais. Dispunha de recursos e tinha em seu estúdio um grande número de auxiliares. Nesse quadro, as moças, sobrinhas de um seu amigo, foram pintadas numa graduação de tons castanhos, com luz vibrante e intenso romantismo. Os traços de fundo e complementos da tela são pouco definidos, mas as moças aparecem com clareza, doçura e feminilidade. A janela fica à direita, por ela vemos o céu e alguma vegetação, assim como a entrada de luz. Mas a claridade principal, ou o foco de luz entra na frente do quadro, na posição do observador. As senhoritas estão a bordar, cuidam das linhas, absortas em seu trabalho e ricamente vestidas e bem penteadas. Tudo mostra a alta classe social a que pertencem. A cortina de veludo está puxada, o mundo lá fora é atingível, e elas aqui estão: há lirismo, poesia, música nessa obra.

O Vagão de Terceira Classe – Honoré Daumier – (1808/1879) (Gênios da Pintura, vol.5) Pintor francês, desde cedo demonstra preocupação com a classe proletária. Foi aluno da Escola de Belas Artes e caricaturista. Perde a visão no fim de sua vida. O escritor Vitor Hugo organiza uma exposição de seus trabalhos, mas não consegue despertar o interesse do público. A pintura e a caricatura foram as armas que usou para lutar contra a desigualdade social e a opressão política. Nesse quadro, a janela é a de um vagão de trem. Ilumina e cumpre bem seu papel de fazer entrar a luz. Mostra a penúria que se repete em gerações diferentes – avó, filha, netos, tristemente retratados em sua viagem no lugar reservado àqueles que não têm meios. Ao fundo, de costas para esta pobre família, Daumier mostra os que viajam em outra classe: As cartolas usadas pela classe mais favorecida, os que viajam na segunda classe, contrastam com as vestimentas rudes e grosseiras da família pobre. De costas, como que para não tomar conhecimento da miséria e sofrimento alheios. O menino dorme, a mãe cuida de seu bebê, e o rosto da velha senhora mostra uma amarga resignação. As pessoas têm os olhos vazios, sem sentimentos. Propositalmente, a luz incide sobre as figuras que o pintor quis destacar. Esse quadro é triste e verdadeiro, nos põe a pensar... É um grito contra a injustiça social.

Almoço no Atelier – Edouard Manet – (1832/1883) (Gênios da Pintura, vol.5)
Pintor que marcou época, desafiou a sociedade, e ficou para a história com sua genialidade. Nessa obra, o filho do artista aparece; é a única vez que pinta seu filho. Manet demorou a casar-se com a mãe de seu filho, pois a moça era protestante e seu pai não o aprovaria. Esperou seu pai morrer para casar-se com sua professora de piano. As aulas durariam 11 anos. Após o casamento, viveu pacatamente em família, e não usava sua mulher como modelo, como faziam vários pintores. Na obra, vemos a janela à esquerda, no alto. Por ela passa uma luz difusa. A luz principal está no menino, pintado com amor e perfeição. É a figura central da cena. Manet concentra nele toda a atenção. Detalhes da refeição aparecem sobre a mesa, servida por uma senhora, que entra com a jarra de prata. As pinceladas bem evidentes já mostram a aproximação do impressionismo. O homem à mesa pode ser o próprio artista, que envia seu olhar ao menino, assim como o faz a mulher. O rapaz tem o olhar perdido, distante. Na ocasião em que pintou essa cena, Manet já era casado com Suzanne. Portanto, é uma cena doméstica, íntima, familiar. O rapaz tem já sinais de entrada na adolescência, e certo ar de desafio.

A Primeira Refeição – Camille Pissarro – (1830/1903) (Gênios da Pintura, vol. 5). Nascido nas Antilhas, tendo estudado em Paris, fica amigo dos impressionistas. Sua técnica do pontilhismo nesta obra nos mostra com doçura a jovem à janela, preparando algo para comer. Está absorvida no que faz e a luz da manhã cai inteira sobre ela. Tem as costas e a cabeça curvadas, o cabelo preso em um coque sendo que há simplicidade em tudo o que vemos. Há pureza aqui nesta obra-prima. O próprio autor disse que jamais pintaria outra tela com tanto cuidado e elaboração. Essa obra nos lembra Vermeer e suas mulheres em cenas domésticas. A janela é generosa, mostra algo da vegetação lá fora, e nos convida a aqui ficar e observar.

Interior com Violino – Henri Matisse – (1869/1954) (Gênios da Pintura, vol.7). Francês, foi advogado, depois decidiu estudar desenho e pintura em Paris. Viajou muito, sempre em busca de maior aprendizado. Sua obra é considerada a expressão mais significativa da arte de vanguarda dos últimos 100 anos. Fez grande número de exposições por todo o mundo. Passou pelas duas grandes guerras, tendo chegado a comprar passagem para vir para o Brasil, onde se refugiaria, no período da segunda guerra. Mas uma conversa com Picasso o faz mudar de idéia; fica na França. Simplificou a pintura, imprimindo alegria e juventude a tudo que fez. Usou cores vivas, brilhantes estendidas em grandes áreas. Fez de tudo um pouco: desenho, pintura, vitrais, cenários e vestuário para ballet, frisos em paredes, esculturas, e gravuras. Matisse colocava janelas em quase todas as suas obras. Nesse quadro que agora observamos, um de seus favoritos, vemos uma cena forte, luminosa, apesar do uso de preto em grande área. A janela, metade aberta, sugere a possibilidade de entrada de mais luz. No exterior vemos uma área azul, que pode ser água ou céu, e um pouco de vegetação. O violino na caixa aberta, em azul e vermelho, sugere música, alegria e arte. À direita, uma bancada em vermelho e amarelo se contrapõe com os outros tons. A luz é tão intensa, que até o preto é luminoso. A cortina da janela está presa dos lados, deixando-a livre. Fica, porem, um certo ar de mistério ou a pergunta: o que mais haveria ali para ser visto?

Violeiro – Almeida Jr. (1850/1899) – (Explicando a Arte Brasileira, pg.83) Artista brasileiro, nascido em Itu, realizou várias obras realistas, com brasileiros e seus costumes. Precede em seus temas os modernistas da semana de 22. Sua janela, aqui, é de uma simplicidade comovente. O violeiro sentado no batente, com sua viola a tocar provavelmente uma toada de amor, é acompanhado pela mulher, que se põe a cantar. Casa de pau a pique, tão brasileira e singela, mas que bem retrata o que é o interior desse nosso país. Ao contrário das outras janelas, esta nós vemos pelo lado de fora; portanto, o efeito de luz aqui não é o que importa, e sim a cena. A luz que faz brilhar o casal vem da direita, e da frente, e o ponto de luz principal está nas calças do violeiro. A observação de fora para dentro nos faz pensar em interiores pobres, porem pacíficos. A escuridão lá dentro trás ao quadro um belo efeito de fundo, contrastando com o exterior iluminado. Tardes quentes, modorrentas na roça...



Várias obras de Maurice Utrillo –(1883/1955)(Gênios da Pintura,vol.7)
Pintor francês, Filho de Suzanne Valadon, que posava para os seus amigos pintores impressionistas, e também pintora. Cresceu junto à avó, menino fraco e esquivo, de inclinações doentias. Começa a pintar por sugestão da mãe, após episódios de alcoolismo. Esteve por várias vezes internado em clínicas psiquiátricas, até 1918. Sua primeira exposição, em Paris, foi um sucesso e assim, passa a trabalhar sob contrato para várias galerias. Apesar de vários pintores retratarem as cidades, Utrillo se destaque, com um olhar diferente sobre as ruas. Transforma seus desenhos em poemas. É modesto em seus temas, e tem em geral um olhar tristonho, como que perdido na contemplação. Descobre lugares poéticos, cantinhos de cidades desconhecidos, sem alarde, com discrição. O ambiente em que viviam Montmartre, era completamente tomado por artistas e boêmios, mas oferecia inspiração e temas a estes artistas. E apesar de ter uma vida tumultuada pelo vício, sem condições financeiras adequadas, e doente, Utrillo nos passa a sensação, através de seus quadros, de uma pessoas que jamais perdeu a ingenuidade e ternura. As janelas de tantas casa e prédios que ele retratou estão sempre fechadas. Ou, quando abertas, nada revelam. São escuras, obscuras. Como olhos fechados, ou cegos. É como se ele dissesse: “conheço a cidade, mas não conheço seus habitantes”. Mas há cor, luz e ritmo musical em suas ruas. Há, também, um convite ao passeio pela cidade. Atiça-nos a vontade de perambular pelas ruas, tentar ver o que ele viu sentir o que sentiu. São encantadoras suas paisagens urbanas, e belíssima sua “Catedral de Chartres”, do estilo gótico.

Diversão com reflexão.

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