quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MULHERES SÁBIAS

Mulher Sábia
Eliana Miranzi

Há muita sabedoria na cabeça de uma mulher. Há muito afeto em seu coração.
Sabedoria mais afeto fazem boa soma. Não é difícil ser sábia, é questão de tempo e sutileza de observação. Ser sábia é conseqüência, não objetivo. A mulher sábia é silenciosa, atenta e discreta. Não é que ela adivinhe o que vai acontecer, mas pode prever, por ter visto tanto da vida, e já que esta se repete... Em sua memória juntam-se enormes conhecimentos, a ponto de, repentinamente, em um dia qualquer ela se dar conta de que realmente conhece o mundo e pode entendê-lo, da mesma forma que entende seu corpo, seus sentimentos. E aflora a intuição...
Sábia é a mulher que não se preocupa com a opinião alheia, pois a dela, por si só, é bastante. Que consegue voltar-se para dentro de si mesma com alegria, pois este é o melhor lugar para se estar. Não sente necessidade de expor sua opinião a toda hora, pois está segura de seu pensamento. Não é preciso expressá-lo.
Sabe ficar só e se deleita com isso, não pela solidão em si, mas pela oportunidade de, no silencio, poder ouvir a voz de sua alma. É lá que reside a escritura da vida, a semente do conhecimento, a terra fértil da criação, a música sagrada.
A mulher sábia é amiga intima de seu eu mais profundo, fala com ele e o ouve, bem mais do que às vozes do mundo. Assim como também é intima da natureza, das plantas e bichos e conhece as trilhas dos insetos, tão bem como os seus próprios caminhos. Da mãe natura ela extrai remédio e veneno; consolo e vida; sinais e avisos. Desta mãe primeira ela conhece cada som, cada cheiro, cada sutil mudança e desenho. Sabe como falar com ela e o que ela está a dizer, o que quer, o que pode dar e do que necessita.
Esta divina criatura, mestra-mulher, se retrai e se expande, se multiplica e se divide, é presente ou invisível, de acordo com as situações. À espreita, acolhe ou ataca, protege ou acusa, ensina e aprende, conforme a necessidade de suas crias. Ela produz, inventa, faz surgir do nada tudo aquilo de que os seus carecem. E se ela é capaz de criar filhos, é capaz também de criar qualquer outra coisa. Tira leite de pedra, faz aparecer arco-íris, provoca chuva ou sol, basta querer. E se mantém no silêncio...
Ela reconhece mistérios, nomeia suas bênçãos, enumera as graças. Dobra as esquinas segura do que faz, como os grandes mestres. Torna-se parceira dos deuses.
Bruxa ou fada, santa ou perigosa, combatente e combativa, misteriosa ou estranha, assim foi e sempre será chamada por todos os tempos. Vive porque em si mora a vida. E luta, e segue em frente, cabeça erguida, olhos atentos.
E, após o término da labuta, lambe as crias, acaricia suas cicatrizes, agradece o universo, deita-se, vira-se de lado espreguiçando longa e vagarosamente e dorme o sono dos justos, dos inocentes e vencedores. Ave Mulher...
Março/2009.

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