quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011


VIK MUNIZ-NARCISO AFTER CARAVAGGIO-


RECEITA DE OLHAR
ROSEANA MURRAY

NAS PRIMEIRAS HORAS DA MANHÃ
DESAMARRE SEU OLHAR
DEIXE QUE SE DERRAME
SOBRE TODAS AS COISAS BELAS.
O MUNDO É SEMPRE NOVO
E A TERRA DANÇA E ACORDA
EM ACORDES DE SOL.
FAÇA DO SEU OLHAR IMENSA CARAVELA.

VER E OLHAR
ELIANA MIRANZI
– FEVEREIRO/2011
Há uma enorme diferença entre estes dois verbos. Muito já foi pensado e falado sobre isso, ao longo da História. Esta questão é tão antiga quanto o homem. Mas, às vezes, percebo que ainda não aprendemos.
Ver e Olhar são dois tipos de ações. Duas atitudes distintas. E nunca precisamos, tanto quanto no mundo atual, de saber distinguir estas duas funções próprias do ser humano.
Nosso mundo é cada vez mais povoado de imagens. Banalizamos o Olhar, de tanto Ver.
Ver é função primária, orgânica, física. É um movimento rápido dos olhos. Ver é duro e reto. Superficial. A visão é calada, muda. É uma flechada, um raio. Vemos e seguimos em frente. Vemos, e nem vimos que vemos.
Olhar requer um pouco mais. Leva à reflexão, conduz ao pensamento, ensina-nos a considerar, contemplar, ponderar. Treina nossa atenção e leva tempo, demora. Olhar faz-nos debruçar sobre as imagens com calma. Assim somos capazes de enxergar no objeto observado, pequenos recortes, pedaços, sutilezas, o outro lado da questão, as minúcias. Depois disso, somos capazes de reintegrar novamente esses pedaços ao todo, como num mosaico, e o que então vemos é novo para nós, apesar de já ter sido visto anteriormente.
Nosso olhar passeia, vai e volta, faz curvas, sobe e desce. É um caminhante, um peregrino, andarilho, em busca de detalhes. Pede sensibilidade e paciência. Pede abertura de mente e alma. E possui o dom da eloquência.
Eu mudo e me transformo quando aprendo a olhar. Assim como muda também aquilo que olho. Olhar bem, olhar profundo requer deixar de lado pré-conceituações, para ser capaz de conhecer o novo, aquilo ainda não percebido. O que é sutil, aparentemente invisível, o mistério das coisas. O que, antes velado, agora se revela.
Aprender a OLHAR nos ensina a compaixão. Basta olhar o outro... ou dentro de nós mesmos.
O mundo das artes é um esplêndido campo de experiências para o olhar. É, basicamente, uma cartilha para nossos olhos analfabetos, iletrados.
Tomemos posse disso; façamos das artes nosso local de treinamento.
Na arte contemporânea, destacadamente, entro ou não, dependendo do meu aprendizado de olhar. Pois ela não é só para ver; ela é feita para ser pensada, para sentir, experimentar, envolver-se, questionar. Para assim, depois, voltar a ver. Com outros olhos. Já diplomados.
E o que vejo e guardo, apreendo e absorvo, agora é meu. Passo a ter co-autoria nesta obra. Torno-me artista. Um criador de olhares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário