terça-feira, 26 de julho de 2011



ARTIGO COPIADO DA
REVISTA VIDA SIMPLES

A mente de Jung
O psiquiatra suíço que mergulhou em visões e sonhos e mudou a forma como entendemos a consciência

por Liane Alves

Uma estranha mania
Jung só saiu dessa fase introspectiva no fim da Primeira Guerra Mundial. E de repente surpreendeu-se em um estranho hábito de desenhar mandalas, aquelas figuras abstratas compostas de círculos e quadrados concêntricos. Aos poucos, intuiu que essas figuras eram símbolos da totalidade, da integração e da realização, como as imagens do sol vermelho que ele prenunciou cinco anos antes.
Ao fazer esse mergulho no inconsciente e segundo sua própria teoria, Jung entrou em contato o si-mesmo, o ponto central da psique."Só quando comecei a pintar as mandalas vi o caminho que seria necessário percorrer e cada passo que devia dar.Tudo convergia para um dado ponto, o do centro.Compreendi sempre mais claramente que a mandala exprime o centro, que é a expressão de todos os caminhos: é o caminho que conduz ao centro, à individuação".
A confirmação
Tudo muito bom, muito coerente e integrado, mas havia um problema. Sua teoria foi criada e testada no próprio Jung e em alguns pacientes. Era pouco para uma tese tão revolucionária. Faltava encontrar uma teoria, sabedoria ou tradição que dissesse coisa parecida, confirmando a teoria.Mais uma vez, as imagens o ajudaram. Em 1927, desenhou um palácio dourado dentro de uma mandala e ficou curioso: "Por que essa mandala parece tão chinesa?". Naquele momento, um amigo lhe enviava um estudo sobre alquimia chinesa que - veja só - relatava como uma pessoa poderia atingir a plenitude da consciência pela meditação. No sistema chinês, o símbolo equivalente ao si-mesmo era - puxa vida -um palácio dourado.
Jung só conhecia a alquimia como uma técnica mal-afamada que pretendia transformar chumbo em ouro.Mas o estudo dizia que o processo era interno e que o ouro era apenas uma metáfora para a realização interna."A psicologia analítica (como ele chamava sua proposta terapêutica) concordava singularmente com a alquimia. As experiências dos alquimistas eram minhas experiências,e o mundo deles era, em certo sentido, o meu."
A coincidência significativa do palácio dourado, assim como dezenas de outras que permeavam a vida de Jung, serviram para fundamentar sua teoria da sincronicidade. Coincidências escondem um significado, dizia. Para ele, os conteúdos da psique tinham uma força assombrosa, que poderiam se manifestar exteriormente em formas de coincidências significativas, as sincronicidades. Isto é, para ele, o interno e o externo são bem mais unidos e interdependentes do que a gente pensa.
O psiquiatra suíço também acreditava que o inconsciente "sabia" antes do consciente, pois era dotado de uma sabedoria própria, não lógica, expressa pelos símbolos. Ouvindo o sonho dos seus pacientes, Jung sentia que podia prever alguns acontecimentos, pois acreditava que sabia interpretar a linguagem vinda do inconsciente. "Os sonhos realmente podem revelar situações muito antes de elas acontecerem", escreveu ele."Muitas crises de nossa vida têm uma longa história inconsciente, que pode transmitir a informação através dos sonhos".
O homem é sua obra
Jung morreu aos 85 anos, em 1961, lúcido e coerente. Passou os últimos tempos de sua vida numa casa à beira do lago de Zurique. Teve dezenas de livros publicados, cinco filhos e alguns casos extraconjugais significativos - alguns com suas pacientes. Seus críticos o consideravam muito subjetivo. Condenavam seu casamento com uma rica herdeira e seu interesse pelas pacientes."Já sofri demasiadamente a incompreensão e o isolamento a que se é relegado quando se tenta dizer aquilo que os homens não compreendem", lamentou-se, embora tenha obtido reconhecimento público e várias láureas acadêmicas no final da vida.
Talvez ninguém tanto quanto Carl Gustav Jung tenha vivido suas próprias idéias. "Minha vida e minha obra são idênticas. O que sou e o que escrevo são uma só coisa." Sua autobiografia, Memórias, Sonhos, Reflexões, escrita em parceria com sua discípula Aniela Jaffé, não podia começar de forma mais significativa:" Minha vida é uma história de um inconsciente que se realizou".
Glossário junguiano
EGO - É a identidade pessoal, aquilo que chamamos de "eu". É o centro ordenador do nível consciente, mas representa uma pequena parte da psique, a ponta de um iceberg
PSIQUE - Conjunto dos nívei consciente e inconsciente do ser humano. Sinônimo de mente
SI-MESMO - Centro ordenador da inconsciência e ponto central da psique toda
INDIVIDUAÇÃO - O processo de integração dos níveis consciente e inconsciente. Quando se completa, a psique torna-se una
MANDALA - Símbolo do si-mesmo e da totalidade. Está presente em várias culturas do mundo - os vitrais em forma de rosácea das catedrais góticas são exemplos de mandala
INCONSCIENTE INDIVIDUAL - O nível mais superficial do inconsciente. É pessoal e guarda desejos reprimidos
INCONSCIENTE COLETIVO - O nível mais profundo do inconsciente, onde estão os arquétipos. É comum a toda a humanidade
ARQUÉTIPOS - Conceitos primordiais, comuns a toda a humanidade, mas que recebem roupagens diferentes em cada cultura. O arquétipo da grande mãe, por exemplo, pode ser visto na imagem de Nossa Senhora e em diversas deusas da África, Ásia ou Oceania. Manifestam-se em sonhos e mitos e nas artes

Nenhum comentário:

Postar um comentário