segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ONDAS POÉTICAS




José Saramago
Espaço curvo e finito



Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.


(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

NASCE O MENINO


GUIDO RENI-ADORAÇÃO DOS PASTORES-

NASCE O MENINO
ELIANA MIRANZI


NASCE O MENINO
QUE É TUDO DE QUE
A HUMANIDADE PRECISA
É FÉ, É ESPERANÇA,
É O AMOR FEITO HOMEM.
É O EXEMPLO E O MODELO.
NASCE O MENINO
QUE NOS FAZ DESEJAR
NASCER NOVAMENTE ESTE ANO
E MAIS OUTRO E OUTRO MAIS.
NASCE O MENINO
QUE NOS ENSINA BEM CLARO
“O BOM MESMO É SER
SEMPRE MENINO”.

domingo, 18 de dezembro de 2011

NO FUNDO DO PROFUNDO



Intimidade
José Saramago

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

POESIA E BRINCADEIRAS


ARTE NAIF- DALVAN- PULANDO AMARELINHA-

Amarelinha
Roseana Murray


Pulo amarelinha
Com o tempo:
Às vezes para a frente,
Às vezes para trás,
Zás-trás, rodopio,
Mergulho no vento, rio
Adentro, mar afora,
A vida é agora.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ENERGIA/JUNG




ENERGIA PSÍQUICA - JUNG-

Jung usava este termo e “libido” como intercambiáveis (CW 6, parág. 778). Dever-se-ia notar que se diz que a energia psíquica é limitada em quantidade e indestrutível. A este respeito, as idéias de Jung ficam em paralelismo com a teoria da libido de Freud. O que se discute é o caráter exclusivamente sexual que Freud atribuía à libido ou à energia psíquica. A concepção de Jung se aproxima mais da de uma forma de energia vital neutra em caráter. Fazia notar que a energia psíquica nas fases pré-edipianas do desenvolvimento assume muitas formas: nutricional, alimentar, e outras. A energia psíquica pode ser usada como um conceito intermediário entre o desenvolvimento corporal por zonas e RELAÇÕES OBJETAIS.
Embora parecendo incorporar a terminologia da física, o conceito de energia psíquica, aplicado psicologicamente, é uma complicada METÁFORA:
(1)Existe necessidade de indicar a intensidade de qualquer atividade psicológica em particular. Isso nos possibilita estimar o valor e a importância de tal atividade para o indivíduo. Em termos genéricos, pode-se obter isso mediante referência à quantidade de energia psíquica investida, muito embora não existam meios objetivos para medir a quantidade de energia.
(2) Existe uma necessidade semelhante de demonstrar um foco móvel de interesse e envolvimento. Poderia se postular um determinado número de diferentes canais em que a energia psíquica pudesse fluir. Jung sugere canais biológicos, psicológicos, espirituais e morais. A hipótese é de que, bloqueada em seu fluxo por um canal, a energia psíquica fluirá para dentro de um outro canal. Aqui, a própria energia não se altera, mas toma uma direção diferente.
(3) A alteração na direção do fluxo não se dá ao acaso. Isto é, os próprios canais ocupam uma estrutura preexistente. Especificamente, um fluxo bloqueado deslocará a energia para o canal oposto; isso se pode ilustrar lembrando que impulsos incestuosos e instintivos, quando frustrados pela proibição do incesto, adotam uma dimensão espiritual. De acordo com Jung, este é exemplo da tendência natural da psique de manter um equilíbrio. Devido a essa tendência, a energia psíquica muda de direção e intensidade quando ocorre um desequilíbrio e não apenas devido a um bloqueio .Uma mudança no fluxo da energia pode ser observada em termos de seu resultado ou produto, como se tal mudança tivesse uma direção e um objetivo .
A abordagem energética de Jung ocupa-se com padrões e SIGNIFICADO, e ele dá atenção especial aos SÍMBOLOS aparecendo tanto antes como depois de transformações da energia psíquica.
(4) Um conflito psicológico pode ser discutido em termos de distúrbios no fluxo da energia psíquica. Assim, o próprio conflito é reconhecido como natural. Numa discussão sobre o INSTINTO DE MORTE e o INSTINTO DE VIDA, podem ambos ser considerados manifestações emanentes de uma fonte de energia única, embora deslocada para o fim e para o início, respectivamente.
-SITE RUBEDO-

domingo, 11 de dezembro de 2011

POESIA E DESEJOS




A INVENÇÃO DE UM MODO
ADÉLIA PRADO



Entre paciência e fama quero as duas,
pra envelhecer vergada de motivos.
Imito o andar das velhas de cadeiras duras
e se me surpreendem, explico cheia de verdade:
tô ensaiando. Ninguém acredita
e eu ganho uma hora de juventude.
Quis fazer uma saia longa pra ficar em casa,
a menina disse: "Ora, isso é pras mulheres de São Paulo"
Fico entre montanhas,
entre guarda e vã,
entre branco e branco,
lentes pra proteger de reverberações.
Explicação é para o corpo do morto,
de sua alma eu sei.
Estátua na Igreja e Praça
quero extremada as duas.
Por isso é que eu prevarico e me apanham chorando,
vendo televisão,
ou tirando sorte com quem vou casar.
Porque que tudo que invento já foi dito
nos dois livros que eu li:
as escrituras de Deus,
as escrituras de João.
Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

INSPIRADA PELO GOOGLE

ARTE MEXICANA
("A EIRA"-DIEGO RIVERA-)


"MOSES"-FRIDA KAHLO-INFLUÊNCIA DE FREUD -

ARTE MEXICANA
DIEGO E FRIDA

Tina Modotti, fotógrafa americana, ativista do partido comunista, e que lutou na guerra civil espanhola, apresentou Kahlo à Rivera. Rivera, que já era famoso, viu os quadros de Frida e ficou impressionado. “Ela tem uma personalidade artística própria...”, afirmou. Em 1928, Frida, com 21 anos , entra para o comunismo e reencontra Rivera, que então com 42 anos, é dirigente do partido. Casaram-se no ano seguinte.
O Comunismo
A revolução bolchevique levou Lênin ao poder em 1917. Dois auxiliares de Lênin cresciam na máquina soviética. Stalin na política e Trotski no exército. A morte de Lênin em 1924 precipitou uma luta entre os dois pelo poder. Ganhou Stalin, Trotski foi expulso do partido comunista em 1927 e do país em 1929. Trotski foi exilado no México em 1937, e foi recebido e hospedado por Kahlo e Rivera na “Casa Azul” de Coyoacán.
A atividade de Rivera e Frida no partido comunista foi complexa, Rivera não aceitava dogmas, nem mesmo os dogmas comunistas. Frida acompanhava Rivera, embora tivesse posições próprias. Rivera era na verdade um humanista e um homem livre que procurava através do marxismo exercer o seu amor pelos mais oprimidos de sua terra, e considerava este um caminho justo. Mas como todos os que acreditam na liberdade foi incompreendido. Nos Estados Unidos teve a coragem de pintar Lênin, em um mural encomendado pelos Rockfeller, em Nova York. O mural foi destruído e Rivera despedido. Rivera foi expulso do partido comunista justamente por ter aceitado pedidos dos americanos. Aliou-se à Trotski, que já era oposição ao regime comunista de Moscou. Voltou depois ao partido comunista. Era na verdade um liberal, um anarquista, um artista em luta contra a hipocrisia. Seu tema foi sempre nacionalista, procurou o comunismo, porque naquele momento esse era o melhor caminho, era a posição esperada de intelectuais preocupados com a melhoria de vida da maioria. Ser comunista naquele momento da história era o erro correto.
A Relação
A relação amorosa de Rivera e Frida foi muito confusa, os dois tiveram inúmeros casos, alguns tempestuosos, mas não conseguiam se afastar um do outro. Frida teve um romance com Trotski e Rivera um caso com a irmã de Frida. Frida procurou, durante sua vida, conquistar a liberdade sexual, que Rivera sempre praticou. As liberdades que se permitiram, fariam corar até os mais liberais de hoje. Divorciaram-se em 1939, mas casaram-se novamente em 1940. Não foram personagens de uma história de amor romântica, onde a dedicação apenas de um para o outro é o principal ingrediente, mas tiveram uma rara interdependência positiva da relação entre homem e mulher, onde juntos cresciam e se tornavam muito maiores do que quando sós.
A Arte de Diego Rivera
Diego Rivera foi um dos grandes pintores muralistas mexicanos. Nos 10 anos que passou na Europa estudou Goya e El Greco. Conheceu pessoalmente Picasso e Griss e teve uma pequena experiência cubista. Foi na Itália que conheceu os afrescos de Giotto, que lhe serviram de inspiração para a pintura revolucionária e pública que iniciou na sua volta para o México. Rivera só encontrou seu caminho aos 35 anos, quando retornou ao México. O seu trabalho evoluiu do experimental do início do século, para uma técnica própria, com influências das cores de Gauguin e da técnica de Giotto. Os grandes murais, alguns com até 1600 metros quadrados foram sua marca. Com David Siqueiros e Clemente Orozco representou a vanguarda intelectual mexicana, voltada para o nacionalismo. Ilustrou o “Canto General”, o poema épico de Pablo Neruda. Influenciou o brasileiro Portinari.

A Arte de Frida Kahlo
Frida começou a pintar quase por acaso, quando conheceu Rivera foi estimulada a continuar. Seus quadros têm o fantástico, que muitos procuram enquadrar como surrealista, o que é um erro. Enquanto os surrealistas pintavam o subconsciente, o escondido, o sonho, o irreal, Frida pinta as emoções que passou em sua vida. A doença sempre esteve presente em sua obra. Dores na coluna por causa do acidente, a poliomielite, abortos, o desejo da maternidade que nunca realizou, as freqüentes internações. O fantástico em Frida é o real, o consciente. A sua pintura é única, é quase uma biografia de paixão e dor. André Breton escreveu: “A Arte de Frida Kahlo é um garrote em torno de uma bomba”. Frida impressiona! A sua frágil figura contrasta com a força de sua procura por liberdade. A sua fraqueza física não a impediu de lutar contra a doença dos povos, a opressão dos mais fracos. Kahlo é considerada hoje a mais importante artista latino-americana, seus quadros são vendidos por milhões de dólares.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MENINA LOUCA E POESIA

MEUS VOTOS DE UM FIM DE ANO CHEIO DE ESPERANÇA


GUSTAV KLIMT- HOPE-

Esperança
Mário Quintana


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

sábado, 3 de dezembro de 2011

LABIRINTOS POÉTICOS




Labirintos
Roseana Murray


A mala aberta
Para a viagem,
O lado direito para arrumar
Os truques, as máscaras,
Três palavras inúteis.
No lado esquerdo os sonhos,
A insônia, os sapatos novos
Para percorrer labirintos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

MAIS DO MENINO COM POESIA....


FIM DE ANO...TEMPO DE REVER CONCEITOS,OLHAR PARA TRÁS E PARA A FRENTE.

Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.