quarta-feira, 1 de agosto de 2012

SIMPLES TRADIÇÕES


                                             ANITA MALFATTI-BRASIL
  A escrivã na cozinha


Adélia Prado




Só Deus pode dar nome à obra completa

— de nossa vida, explico — mas sugiro

Ao meio-dia, um rosal,

implica sol, calor, desejo de esponsais,

a mãe aflita com a festa,

pai orgulhoso de entregar sua filha

a moço tão escovado.

Nome é tão importante

quanto o jeito correto de se apresentar a entrevistas.

Melhor de barba feita e olho vivo,

ainda que por dentro

tenha a alma barbada e olhos de sono.

Sonhei com um forno desperdiçando calor,

eu querendo aproveitá-lo para torrar amendoim

e um pau roliço em brasa.

Explodiria se me obrigassem a caminhar por ele.

Ninguém me tortura, pois desmaio antes.

A beleza transfixa,

as palavras cansam porque não alcançam,

e preciso de muitas para dizer uma só.

Tão grande meu orgulho, parece mais

o de um ser divino em formação.

Neurônios não explicam nada.

Psicólogos só acertam se me ordenam:

Avia-te para sofrer — conselho pra distraídos—,

cristãos já sabem ao nascer

que este vale é de lágrimas.



Texto extraído do livro “A duração do dia", Editora Record – Rio de Janeiro, 2010, pág. 25.



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