terça-feira, 6 de agosto de 2013

A PSIQUE FALA?


A psique fala-nos? 
(SUPONHO SER DE AUTORIA DE C.G.JUNG, MAS NÃO TENHO FONTE)

O nosso intelecto criou um mundo novo que domina a natureza, e ainda a povoou de máquinas monstruosas. O homem não resiste às solicitações aventureiras da sua mente científica e inventiva, nem cessa de congratular-se consigo mesmo pelas suas esplêndidas conquistas. Ao mesmo tempo, a sua genialidade revela uma misteriosa tendência para inventar coisas cada vez mais perigosas, que se tornam instrumentos cada vez mais eficazes de suicídio colectivo.

Em vista da crescente e súbita avalanche de nascimentos, o homem já começou a buscar meios de suster a explosão demográfica. Mas a natureza pode vir a antecipar esta tarefa, voltando contra ele as suas próprias criações. A bomba de hidrogénio, por exemplo, seria um freio seguro para este aumento de população. A despeito da nossa orgulhosa pretensão de dominarmos a natureza, ainda somos suas vítimas, na medida em que nem sequer aprendemos a dominar-nos a nós mesmos. De maneira lenta, mas que nos parece fatal, atraímos o desastre.

Já não existem deuses cuja ajuda possamos invocar. As grandes religiões padecem de uma crescente anemia, porque as divindades prestimosas já fugiram dos bosques, dos rios, das montanhas e os animais e os homens-deuses desapareceram no mais profundo do nosso inconsciente. Iludimo-nos, julgando que, lá no inconsciente, têm uma vida humilhante entre as relíquias do nosso passado. As nossas vidas são agora dominadas por uma deusa, a Razão, que é a nossa ilusão maior e mais trágica. É com a sua ajuda que acreditamos ter conquistado a natureza.

Continuamos a achar natural que homens briguem e lutem com o objectivo de afirmar cada um a sua superioridade sobre o outro. Como pensar, então, em conquista da natureza?

Como toda a mudança deve, forçosamente, começar em alguma parte, será o indivíduo isoladamente que terá de tentar levá-la avante. Esta mudança só pode principiar, realmente, num só indivíduo; poderá ser qualquer um de nós. Ninguém tem o direito de ficar a olhar à sua volta, à espera de que alguma outra pessoa faça aquilo que ele mesmo não está disposto a fazer. Mas como ninguém parece saber o que fazer, talvez valha a pena que cada um de nós se pergunte se, por acaso, o seu inconsciente conhecerá alguma coisa que possa ser útil a todos. A mente consciente, decididamente, parece incapaz de nos ajudar. Hoje, o homem dá-se dolorosamente conta de que nem as suas grandes religiões nem as suas várias filosofias parecem capazes de lhe fornecer aquelas ideias enérgicas e dinâmicas que lhe dariam a segurança necessária para enfrentar as actuais condições do mundo.

Os cristãos muitas vezes perguntam por que motivo Deus não se lhes dirige, como se acredita que fazia em tempos passados. Quando ouço este tipo de perguntas, lembro-me sempre do rabi a quem perguntaram por que razão ninguém mais, hoje em dia, via Deus, quando, no passado, Ele aparecia às pessoas com tanta frequência. Resposta do rabi: “É que hoje em dia já não existe gente capaz de se curvar.” Resposta absolutamente certa. Estamos tão fascinados e envolvidos pela nossa consciência subjectiva que nos esquecemos do facto milenar de que Deus nos fala sobretudo através dos sonhos e visões.

Passei mais de meio século a investigar os símbolos naturais e cheguei à conclusão de que tanto os sonhos como os seus símbolos não são fenómenos inconsequentes ou desprovidos de sentido. Pelo contrário, os sonhos fornecem as mais interessantes revelações a quem quiser dar- se ao trabalho de entender a sua simbologia. O resultado, é bem verdade, pouco tem a ver com problemas quotidianos como vender ou comprar. Mas o sentido da vida não se explica totalmente pela nossa actividade económica, nem os anseios mais íntimos do coração humano são realizados por uma conta bancária.

Neste período da história humana em que toda a energia disponível é dedicada ao estudo e investigação da natureza, dedica-se pouquíssima atenção à essência do homem, à sua psique.

O mais importante instrumento do homem, a sua psique, recebe pouca atenção, e é muitas vezes tratado com desconfiança e desprezo. “É apenas psicológico” é uma expressão que significa, habitualmente: “Não é nada.” De onde virá exactamente este imenso preconceito?

O estudo do simbolismo individual e colectivo é tarefa gigantesca que ainda não foi vencida. Mas, pelo menos, já existe um trabalho inicial. Os primeiros resultados são encorajadores e parecem oferecer resposta às muitas perguntas – até aqui sem nenhuma réplica – que se colocam à humanidade de hoje.

 

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